Nesta terça-feira (4), o município de Meruoca sediou a II Oficina de Elaboração do Plano de Gestão Proativo de Seca do Hidrossistema Jenipapo, no Sindicato dos Trabalhadores(as) Rurais de Meruoca.
O encontro reuniu por meio do projeto do cientista chefe a Profa. Dra. Marina Leitão (UVA), Profa. Dra. Janine Brandão Farias (UFC) e Keila Maria Mesquita Linhares (UVA) que conduziram a reunião, além de representantes de instituições públicas, entidades locais, usuários de água e a equipe técnica da Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (COGERH).

O Plano de Gestão Proativo de Seca busca planejar, de forma antecipada, ações práticas e integradas que possam ser implementadas antes e durante os períodos de escassez hídrica, reduzindo os impactos sociais, econômicos e ambientais.
Com abordagem operacional e foco nos sistemas hídricos, o plano é construído de forma colaborativa junto aos colegiados de gestão das águas e às Gerências Regionais da COGERH, que atuam como multiplicadores desse processo participativo.

Durante a oficina, foram apresentados e discutidos os principais resultados do diagnóstico do Hidrossistema Jenipapo, composto por uma série de informações fundamentais: caracterização geral do sistema, usos atuais da água, aspectos normativos e institucionais, percepções sobre a seca, impactos, conflitos sociais, e vulnerabilidades.

O Hidrossistema Jenipapo está localizado na Região Hidrográfica do Acaraú, tendo como principal curso d’água o Riacho Contendas, abrangendo os municípios de Meruoca e Alcântaras. Inserido na Área de Proteção Ambiental (APA) da Meruoca, o sistema é marcado por uma bacia predominantemente rural.

Durante a apresentação do diagnóstico, destacou-se também a situação da qualidade da água do açude. Das amostras analisadas, 2% foram classificadas como de péssima qualidade, 30% apresentaram condições ruins, 57% enquadraram-se como mesotróficas (nível médio de produtividade) e 11% foram consideradas oligotróficas, ou seja, com águas mais limpas e de baixa produtividade. Também foram observados pontos de poluição próximos à bacia hidráulica.

O diagrama de usos do açude Jenipapo indica uma ampla diversidade de finalidades da água, incluindo abastecimento humano, dessedentação animal, irrigação, atividades comerciais e de lazer (balneários), além de retiradas por carros-pipa.
Entre as principais ações e medidas adotadas para mitigar os efeitos negativos da seca, destacam-se: a realização de reuniões com usuários e comissões gestoras, a articulação entre órgãos públicos e entidades locais, e o fortalecimento do diálogo nos Comitês de Bacia.
Do ponto de vista estrutural, medidas como perfuração de poços profundos, construção de adutoras e instalação de cisternas de placa. Outras iniciativas incluem a operação de carros-pipa, instalação de chafarizes e mobilização de associações e coletivos comunitários.

Um dos momentos mais importantes da oficina foi a realização do “Seca em Jogo”, uma ferramenta interativa que busca não apenas informar, mas também engajar e estimular a participação ativa da sociedade na elaboração dos Planos de Gestão Proativa de Seca.
A metodologia lúdica e participativa favorece o aprendizado coletivo, permitindo que diferentes grupos compreendam o funcionamento dos sistemas hídricos e colaborem na definição de estratégias conjuntas para enfrentar os períodos de estiagem.

O projeto Plano de Gestão Proativo de Seca é inteiramente cearense, desenvolvido no âmbito do Programa Cientista Chefe de Recursos Hídricos (Funcap), em parceria com a Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), a Universidade Federal do Ceará (UFC) e a Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh), e contando também com varias instituições de ensino e uma ampla interdisciplinaridade.
O projeto conta ainda com o apoio da Secretaria dos Recursos Hídricos (SRH) e do Centro de Cooperação Internacional em Pesquisa Agronômica para o Desenvolvimento (CIRAD). A iniciativa tem se destacado nacionalmente, sendo finalista do Prêmio ANA 2023 na categoria Educação – Ensino Superior e Pesquisa.

Com a população cada vez mais engajada e consciente das ações que devem ser adotadas antes, durante e após os períodos de seca, o Plano de Gestão Proativo de Seca do Hidrossistema Jenipapo representa um passo importante na construção de soluções conjuntas e sustentáveis. Ao promover o diálogo, fortalecer a cooperação e antecipar medidas, o processo contribui para reduzir conflitos e construir consensos entre os diferentes usuários de água.
