Nesta sexta-feira (5), o Comitê da Bacia Hidrográfica do Acaraú promoveu, no Instituto Federal do Ceará (IFCE), campus Sobral, o II Seminário Água e Gênero, reunindo mulheres de diversos territórios da bacia do Acaraú para discutir a participação na gestão das águas, a ruptura com padrões normativos excludentes e o enfrentamento às múltiplas formas de violência que atingem as mulheres na sociedade brasileira.

O evento contou com ampla adesão de mulheres que atuam em comunidades, instituições, movimentos sociais e espaços de decisão, fortalecendo o Comitê como um espaço de acolhimento, diálogo e construção coletiva de pautas que articulam a gestão das águas com justiça social, equidade de gênero.
Ao longo do seminário, o debate destacou a importância da presença das mulheres nos espaços de debates e tomadas de decisão sobre a gestão da água, reconhecendo o papel histórico das mulheres enquanto consumidoras finais, cuidadoras do território, lideranças comunitárias e representantes institucionais.

As discussões reforçaram que a participação das mulheres amplia a sensibilidade social das decisões e promove uma gestão mais democrática, inclusiva e sustentável.
Um dos eixos centrais do debate foi o processo de alocação de água, com uma roda de conversa, entendido como um instrumento fundamental da gestão participativa da água. A alocação consiste em um processo de diálogo e pactuação que visa disciplinar o uso da água em bacias hidrográficas ou reservatórios, especialmente em contextos de conflito ou escassez, como períodos de estiagem.
Por meio de regras claras, como horários, volumes e prioridades de uso, são estabelecidos acordos entre órgãos gestores, usuários e sociedade civil, garantindo o atendimento mínimo das necessidades essenciais e a sustentabilidade hídrica.

Nesse contexto, enfatizado como o olhar das mulheres é estratégico nesse processo, considerando que muitas estão diretamente envolvidas na gestão cotidiana da água, na mediação de conflitos nos territórios, além de ocuparem cada vez mais espaços de liderança institucional.
Outro tema central do seminário, que teve diálogo em roda de conversa no período da tarde, foi a agroecologia, apresentada como um campo científico, prático e social que integra ecologia e agricultura para a construção de sistemas alimentares sustentáveis, equilibrando produção, conservação ambiental e justiça social. O debate destacou que a agroecologia valoriza os saberes tradicionais, respeita os ciclos naturais, reduz o uso de agrotóxicos e fortalece a biodiversidade.

As participantes ressaltaram a necessidade de fortalecer a atuação das mulheres na agroecologia como forma de enfrentar desigualdades estruturais que, ao longo do tempo, invisibilizam, sobrecarregam e vitimizam mulheres, muitas vezes culminando em situações extremas de violência.
Violência contra as mulheres: um debate urgente e necessário
O II Seminário Água e Gênero ocorreu em um contexto nacional marcado pelo agravamento dos índices de violência contra as mulheres. Dados recentes divulgados pelo G1, com base em informações do Ministério da Justiça e Segurança Pública, apontam que o Brasil registrou mais de mil casos de feminicídio em 2025. De janeiro a setembro deste ano, mais de 2,7 mil mulheres sofreram tentativas de feminicídio, e 1.075 foram assassinadas em decorrência desse tipo de crime.
Casos recentes noticiados evidenciam a brutalidade da violência de gênero no país, como o atentado sofrido por Evelin de Souza Saraiva, de 38 anos, baleada em São Paulo pelo ex-companheiro e internada em estado crítico, e a tragédia ocorrida no Recife, onde uma mulher e seus quatro filhos morreram carbonizados após agressões cometidas pelo companheiro, que foi preso posteriormente.

Segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, houve ainda um aumento de 26% nas tentativas de feminicídio em 2024, revelando um cenário alarmante que exige respostas urgentes do poder público e da sociedade.
Trazer esse debate para dentro do Comitê de Bacia é, portanto, um ato de grande relevância, que reconhece a gestão das águas como um campo indissociável da defesa dos direitos humanos e da vida das mulheres.
Encerramento com visita à Farmácia Viva do IFCE
O seminário foi encerrado com uma visita à Farmácia Viva do IFCE – Campus Sobral, projeto de extensão voltado ao cultivo, manejo e distribuição de plantas medicinais e fitoterápicos. A iniciativa funciona como um horto medicinal que oferece mudas e orientações gratuitas à comunidade, promovendo saúde, cuidado e valorização do conhecimento tradicional aliado à ciência.

O II Seminário Água e Gênero reafirma o compromisso do Comitê da Bacia Hidrográfica do Acaraú com a ampliação dos debates sobre equidade, participação social e enfrentamento das violências estruturais, fortalecendo a luta das mulheres por respeito, justiça e transformação social.
